Quem viaja a bordo da Emirates talvez seja atendido, em algum momento, pelo brasileiro Anderson Brixner. Prestativo, atencioso e com simpatia de sobra, o comissário de bordo não mede esforços para o bem-estar dos passageiros. Há quase um ano trabalhando para a companhia árabe, o paranaense de 27 anos tem vivido experiências únicas com a nova profissão, em uma “ponte aérea” direta entre diferentes culturas e nacionalidades.
O contato com essa diversidade cultural teve início logo que o brasileiro ingressou na companhia, em maio do ano passado. Como a empresa tem sede em Dubai, a luxuosa cidade dos Emirados Árabes Unidos se tornou ponto de partida para novos destinos. “É uma cidade cosmopolita, existem pessoas de todas as partes do mundo. As leis do país são baseadas na religião muçulmana, então pode ser um pouco diferente das nossas. Os nativos normalmente recebem as pessoas muito bem, são educados, respeitosos e possuem uma cultura incrível”, pontua.
Diferença de culturas
Segundo o comissário, quem for viajar ou morar em Dubai precisa entender e aceitar que existem disparidades culturais e religiosas. Isso faz toda a diferença, já que os dois fatores influenciam fortemente no cotidiano da cidade.
É preciso ter respeito. Sempre vou mencionar isso, porque é o que faz a diferença. Há muita oportunidade aqui e, para se viver em um país com uma cultura diferente da nossa, é preciso ter um entendimento do mundo e uma bagagem desprovida de julgamentos e preconceitos”, aconselha Brixner.
Na avaliação dele, quem está disposto a encarar as diferenças logo se encanta e se adapta com o universo cosmopolita dos Emirados Árabes. “Pessoas de todas as partes do mundo vivem aqui e, ainda assim, é um dos países mais seguros para se viver. O que mais gosto aqui é exatamente essa mistura de culturas e pessoas. Isso torna Dubai moderna e vibrante”, ressalta.
Dificuldades pelo caminho
No entanto, quem não se atenta às peculiaridades da cidade árabe pode encontrar obstáculos enquanto permanecer por lá. Entre essas particularidades está a compra de bebidas, algo comum em território brasileiro. “A religião muçulmana não permite a venda e consumo liberado de álcool; apenas estabelecimentos licenciados podem ter ou vender. Quem gosta de ter um vinho ou uma cervejinha em casa precisa de um documento específico, o qual é solicitado na compra dos produtos. Caso contrário, os estabelecimentos não venderão os mesmos”, exemplifica.
Outro desafio é a adaptação ao verão rigoroso no país, uma das poucas dificuldades sentidas pelo brasileiro. Isso porque o sol escaldante e os termômetros alcançando os 45ºC tornam impossível qualquer tipo de atividade ao ar livre. “No mais, tem sido uma experiência incrível”, garante.
Preparativos para a seleção
Natural de Marechal Cândido Rondon, município paranaense localizado na fronteira com o Paraguai, Brixner precisou superar desafios para alcançar o posto na Emirates – primeira e única companhia aérea em que pretende atuar, segundo ele. O primeiro deles foi vencer o acirrado processo seletivo da empresa, que envolve mais de 200 mil pessoas por ano. Dessas, somente 3 mil são contratadas.
Para se habituar a um novo idioma e ter na bagagem alguma vivência internacional, ele primeiro fez intercâmbio na Irlanda. Somente depois é que encarou a seleção da Emirates.
A primeira coisa que se deve pensar é a língua. O inglês é fundamental para o trabalho e é também a língua oficial da empresa. Tudo, desde o processo seletivo, é feito em inglês. Tive muita orientação de uma ex-comissária, que abriu meus olhos para a oportunidade. Ela doou uma boa parte do seu tempo pra me dar dicas e me fazer entender do que o trabalho se tratava”, conta Brixner.
Uma bagagem de conhecimentos
A rotina a bordo de alguma aeronave da Emirates varia conforme a distância e a duração do voo. Servir as refeições, estar atento aos casos médicos que possam surgir e, principalmente, ser prestativo aos viajantes estão entre as principais atribuições de Brixner. “Nossa função primordial é com a segurança dos passageiros, mas todos sabemos que o atendimento a bordo é o diferencial de cada companhia”, observa.
Após o pouso, desembarque dos passageiros e checagem da cabine, é hora de relaxar até a próxima viagem. Quando fora de Dubai, o período de descanso também é marcado pela busca por novas experiências. É nesse momento que o comissário tem a oportunidade de explorar o destino, que, até então, era desconhecido por ele.
Assim, de viagem em viagem, Brixner vai acumulando vivências em países como Austrália, França, Itália, China, Irlanda, Filipinas, Japão, África do Sul e Ilhas Seychelles. “É difícil escolher algo que marcou mais, pois em cada um deles há algo especial. Singapura me surpreendeu pela natureza, organização e até pelo povo. Os asiáticos tendem a ser mais introvertidos e, em Singapura, eu vi o contrário. É um lugar lindo!”, enaltece.
Projetos para o futuro
Apesar da carreira dentro do universo da aviação estar apenas começando, Brixner já começa a fazer planos para o futuro. Quando chegar a hora de se despedir do cargo na companhia aérea, ele planeja voltar ao país e ao campo de formação, Ciências Contábeis, onde atuava antes de se mudar para os Emirados. “Vou ficar alguns anos aqui em Dubai, fazer algum investimento no Brasil e planejar a minha volta ao mercado de trabalho na minha área. Entendo que a Emirates é uma excelente empresa, mas na minha área preciso me aperfeiçoar para poder voltar. No momento, estou muito feliz e realizado, mas como bom brasileiro já estou pensando no que vem depois”, adianta.
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