O ministro das Relações Exteriores, embaixador Ernesto Araújo, está dedicado a reverter a baixa integração do Brasil no mundo. Em entrevista à Agência CNI de Notícias, o embaixador falou sobre a importância da relação do Brasil com os demais países do Brics, Rússia, Índia, China e África Sul, dos planos para os Estados Unidos e da aproximação com o Oriente Médio e a África. Para o Mercosul, a estratégia é garantir o bloco como uma área de livre comércio. “Não se pode ter um Mercosul como um queijo suíço, com lugares onde haja buracos, barreiras entre os sócios”, diz o embaixador. Além disso, afirma Araújo, o Brasil não pode abrir mão de uma integração com outros mercados. Confira os principais pontos da entrevista:
Qual é a estratégia do Brasil para o Brics e as possibilidades de ganhos para o país neste grupo?
Ernesto Araújo – A Cúpula dos Brics já é uma tradição, o Brasil tem interesse tanto bilateralmente quanto no conjunto. O conjunto dos Brics tem tido um desafio de encontrar um interesse comum entre esses cinco países, que têm visões diferentes. E nós temos conseguido encontrar temas que criem uma plataforma comum. Neste ano, na presidência brasileira, vamos tratar de inovação, ciência e tecnologia e cooperação para o combate ao crime organizado. Do ponto de vista econômico, queremos aumentar a participação do Novo Banco de Desenvolvimento (banco do Brics) em projetos brasileiros.
Que resultados devemos esperar com o fim da presidência brasileira no Mercosul no fim do ano? O acordo de facilitação de comércio pode ser uma entrega?
EA – O acordo de facilitação de comércio está fase final de negociação e deve eliminar algumas taxas que existem entre o comércio do bloco e cortaria burocracia que ainda existe. Estamos animados para fechar esse acordo na cúpula de dezembro e isso seria um dos ganhos importantes que a gente pode tocar agora. Também queremos avançar um pouco na questão da simplificação dos Mercosul e procurar prosseguir nessa agenda de dinamização do bloco, assim como de consolidar o comércio intrazona. Temos que ver qual é a nova atitude que o governo da Argentina trará.
O que o Brasil não pode abrir mão dentro do Mercosul?
EA – De três princípios básicos. O de livre comércio dentro do bloco, essa é a alma do Mercosul. Não se pode ter um Mercosul como um queijo suíço, com lugares onde haja buracos, barreiras entre os sócios. Segundo, a integração aberta, um bloco que quer negociar com terceiros. Como já conseguimos neste ano, com o acordo com a União Europeia e com o Efta (Associação Europeia de Livre Comércio), continuar neste caminho das grandes negociações externas. E, algo que é fundamental, que tem relação com a essência do Mercosul é a democracia. O Mercosul como um espaço democrático e um polo de democracia na região. Isso foi reafirmado este ano, graças a boa convergência entre os presidente Bolsonaro e Macri e isso não pode ser esquecido. O Mercosul traz no berço essa vocação de ser uma força pela democracia e disso também não abrimos mão.
Como deve avançar a agenda com a Europa agora que os blocos concluíram o acordo Mercosul-União Europeia?
EA – Preciso aproveitar esse acordo. Já está em andamento o trabalho da revisão jurídica para levarmos a todos os parlamentos. Isso leva mais alguns meses. Espero que ocorra com tranquilidade e a gente comece o trabalho de ratificação no ano que vem. Mas antes disso, o acordo já gera bastante interesse de investidores, já achamos que mudou em grande parte esta visão do Brasil como destino de investimentos por causa do acordo e o que ele sinaliza em termos de abertura econômica preparar para isso, no diálogo com os investidores, temos conversado com várias companhias europeias, alemães, francesas, italianas, que estão muito animadas com essa perspectiva e já pensando em ampliar investimentos no Brasil. Então, é tentar consolidar isso.
O senhor que conhece bem a indústria pode dizer quais mercados a indústria brasileira deveria explorar, que ainda não está explorando? Que oportunidades estão sendo perdidas?
EA – Tem dois mercados. Oriente Médio e África. Ficou muito claro nessa viagem para os países do Golfo, o interesse pelo Brasil. Eles querem trabalhar conosco em todas as dimensões e se tornarem um parceiro de primeira linha do Brasil. Tanto dos Emirados Árabes Unidos, da Arábia Saudita quanto Qatar. Tanto como fonte de investimentos de lá para cá quanto de mercado para os nossos produtos. Já estamos trabalhando para ir mais a fundo nisso. Identificar quais são as oportunidades específicas, traduzir isso para as nossas exportadoras, é um mercado muito promissor e estamos muito entusiasmados pelo mercado consumidor lá e pela possibilidade de termos um hub de exportação nos Emirados Árabes para a Ásia. Temos economias muito complementares com poucos itens que concorram, eles praticamente têm interesse em toda a nossa pauta e querem diversificar.