Dos muitos caminhos para uma companhia de tecnologia marcar presença no exterior, um tem se mostrado cada vez mais interessante ao reduzir e até mesmo eliminar distâncias: a internacionalização de empresas. Mas antes de alçar este voo só de ida, é preciso estar atento a alguns aspectos fundamentais.
A especialista no assunto, doutoranda em administração e CEO da BeGlobal Consultancy — especializada em internacionalização de empresas de tecnologia —, Julia Baranova, se dedica há 20 anos a estudar e realizar o processo.
Ela observa que embora muitas empresas do setor, de startups a companhias consolidadas, enxerguem a internacionalização como um caminho estratégico para o crescimento, não existe uma regra clara para definir o momento ideal de se internacionalizar. “Para a tomada desta decisão seria importante reunir diversas informações e fazer análises prévias. Primeiramente, teria que ter clareza das motivações da empresa para expandir suas operações para fora do Brasil”, diz.
Entre os motivos destacados pela especialista estão: aumentar mercado potencial (o chamado “total addressable market”), diversificar riscos, capturar investimentos, aumentar competitividade, acessar novos talentos, acessar novas tecnologias e aumentar o valor de mercado da empresa.
“No segundo momento seria interessante que os gestores fizessem uma autoavaliação para estimar o potencial da empresa ao se internacionalizar”, acrescenta. Para isso, Julia sugere que se analise os seguintes pontos:
- se o produto ou serviço oferecido no Brasil teria uma demanda recorrente em outros mercados, ou seja, se os potenciais clientes teriam enxergado um valor frente às soluções similares já disponíveis em seus mercados;
- se a marca já recebeu alguma demanda orgânica (se algum cliente do exterior se interessou pelo seu produto) ou se existe uma possibilidade de atender filiais internacionais de algum cliente que já é atendido no Brasil;
- se a companhia teria uma estrutura necessária para absorver as operações internacionais (RH, recursos financeiros, equipamentos e outros) e, principalmente;
- se a empresa possui rotinas estabelecidas para promover a capacitação e a aprendizagem corporativa.
Além desses aspectos Julia, que também é professora de Negócios Internacionais, observa que é preciso avaliar também os riscos (ver box) e elaborar uma política de gestão. Assim, será possível executar os planos de mitigação ou transferência deles para proteger ativos e manter a sustentabilidade do negócio.
Outra forma de gerenciar riscos, de acordo com a especialista, é fazer parcerias com empresas que já operam no mesmo segmento e que teriam interesse em desenvolver uma solução conjunta.
“Os parceiros internacionais, principalmente aqueles que já estão inseridos em ecossistemas locais e que possuem uma boa reputação, poderiam compartilhar conhecimento, experiência e até infraestrutura para obter os ganhos da parceria, que consequentemente melhoraria a performance da empresa brasileira”, explica.
Como internacionalizar
Se após toda a avaliação prévia, a opção for pela internacionalização, é o momento de decidir como ela será feita. Há duas possibilidades: conduzir o processo por conta própria ou ter apoio de especialistas ou entidades. Julia observa que a primeira pode ser bastante desafiadora, sendo geralmente necessário contar com o método de tentativa e erro.
“Internacionalizar envolve aspectos complexos e diferentes áreas como comercial, contábil e jurídica. Muitas vezes, esses assuntos devem ser resolvidos simultaneamente e com alta velocidade para não perder as oportunidades de novos negócios ou a reputação conquistada previamente. Portanto, o uso de tentativa e erro pode trazer alguns atrasos e acarretar custos extras, causados pelos retrabalhos”, pondera.
Já ao contratar especialistas ou entidades, Julia acredita que a companhia passa por um processo mais estruturado e se beneficia de metodologias previamente desenvolvidas. “Desta forma a empresa consegue obter mais clareza em cada etapa do processo, definir os gatilhos de tomada de decisões e estabelecer as métricas a serem alcançadas para poder avançar entre uma etapa e outra”, afirma.
A imagem da marca brasileira no exterior
Sair do Brasil e encarar o mercado internacional ainda enfrenta mais um desafio: a imagem da marca brasileira no exterior. Julia Baranova explica que por muitos anos houve um investimento massivo por parte do Governo Federal na promoção da Marca Brasil, incluindo a participação de empresas em feiras internacionais e campanhas promocionais, entre outras ações.
“Os esforços significativos foram feitos para melhorar tanto a imagem do Brasil, quanto a percepção de estrangeiros sobre a qualidade dos produtos brasileiros. Contudo, essa percepção está sujeita à volatilidade de avaliação do risco político, econômico e financeiro do país”, ressalta.
De acordo com a estudiosa, o Brasil já chegou a ocupar o 11º lugar em 2015 do ranking Nation Brands e caiu para o 21º lugar neste ano. “Para fins de estratégias de internacionalização de empresas brasileiras, costumamos avaliar se as vendas podem obter alguma vantagem pela divulgação do país e, caso não, recomendamos usar estratégias comerciais que sejam embasadas em outras vantagens competitivas da companhia”, finaliza.