Apesar da cúpula do Brics ser realizada na América do Sul e do momento conturbado que vivem muitos países do continente, os interesses da China devem ser o foco do encontro dos chefes de Estado e de governo dos países que formam o bloco (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).
Em entrevista a DW, o economista da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Lívio Ribeiro, lembrou que há outras questões em jogo além das divergências sobre os desdobramentos na América do Sul. “Tem questões muito mais relevantes para o Brics, como pautas bilaterais que possam levar a parcerias mais próximas, especialmente no caso chinês, com essa região da América Latina. E aí entra a One Belt One Road [Iniciativa do Cinturão e Rota – BRI, na sigla em inglês].”
Segundo Ribeiro, depois de expandir na Ásia, África e Europa, a chamada Nova Rota da Seda está agora indo para a América do Sul.
Talvez, neste momento histórico e geopolítico da China, essa reunião possa ser interessante para tentar trazer a região, especificamente o Brasil, mas também Chile e Peru, e um pouquinho da Argentina, para dentro desse projeto.”
O foco principal está em linhas ferroviárias para melhor vincular a produção agrícola brasileira e argentina a portos. Chile e Peru precisariam ser conectados pelos Andes aos dois gigantes da agricultura. Além disso, os dois países vizinhos banhados pelo Oceano Pacífico possuem minérios e uma indústria de mineração que interessam à China.
“Quem manda nos Brics é a China”
As conversações durante a cúpula desta semana em Brasília devem girar em torno desse interesse central da China, segundo Ribeiro. Porque o mais importante para todos os países do Brics é o seu próprio relacionamento com a China – os outros parceiros do grupo são secundários, diz o economista.
É verdade que existe uma forte relação entre Índia e Rússia e que o comércio entre Rússia e Brasil se intensificou recentemente, principalmente na exportação de carnes brasileiras. Mas, em última análise, sobretudo os interesses chineses estão em jogo, aponta Ribeiro.
“Quem manda no Brics é a China. Os outros têm uma postura marginal no grupo. Assim, parece-me razoável que a China use esse momento conturbado na América do Sul para dar um passo além na sua projeção de poder na região”, diz Ribeiro.
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