Há semanas sem faturamento, firmas europeias de médio porte com negócios na China já temem falência. A crise econômica gerada a partir do problema de saúde pode forçar as cadeias mundiais de abastecimento a fazer mudanças em sua estrutura.
A epidemia tem efeitos econômicos principalmente através de medidas às vezes drásticas que autoridades e empresas adotam para evitar maior disseminação do vírus como, por exemplo, restrições de viagens ou fechamento de fábricas. Empresas internacionalmente ativas e com ampla rede comercial, tal como as dependentes de exportação, são as mais afetadas.
O ministro da Economia da França, Bruno Le Maire, vê a epidemia como uma chance de mudança para a globalização, em vista da vulnerabilidade das cadeias de fornecimento interligadas internacionalmente, um acontecimento que põe as práticas atuais totalmente de ponta-cabeça. O surto e suas consequências teriam, segundo ele, revelado uma dependência “irresponsável e irracional” em relação à China.
As relações globais de fornecimento teriam que ser repensadas, sobretudo nos setores de saúde e automotivo, de acordo com Le Maire. “Não podemos continuar de 80% a 85% dependentes da China para ingredientes farmacêuticos”, acrescentou, durante uma visita à capital grega, Atenas.
O presidente da Câmara de Comércio da União Europeia na China, Jörg Wuttke, considera as consequências econômicas do coronavírus “muito mais extremas do que a maioria suspeita”. “Tenho ouvido pedidos de ajuda de todos os cantos”, disse, em entrevista, frisando que muitas empresas de médio porte que operam na China já estão no rumo da falência.
Muitas dessas companhias já atravessam semanas sem faturamento algum. “Isso, em geral, não é um problema para grandes corporações”, comenta Wuttke. “Mas muitas empresas de médio porte já estão em apuros.”
Fornecimento em risco
Até agora, as consequências para as cadeias mundiais de abastecimento estão sendo subestimadas. Somente as grandes companhias de navegação Cosco e Maersk estariam segurando nos portos nas últimas quatro semanas, 70 navios porta-containers, cada uma.
Voos de carga adicionais
Enquanto isso, a Lufthansa, o grupo de carga aérea de maior faturamento na Europa, está planejando voos adicionais de carga para a China. Um porta-voz da Lufthansa Cargo anunciou que a oferta seria ampliada a partir deste domingo (01/03) das atuais sete, para oito conexões semanais.