O novo coronavírus está forçando companhias aéreas internacionais a fazer planos de contingência de alto custo para conter a propagação do vírus, afetando ainda mais um setor que já vinha sofrendo com a queda do número de passageiros. Há algumas semanas, as companhias ainda nutriam esperanças de que o surto pudesse ser contido na China. Agora, fala-se da maior crise desde a de 2008 como uma consequências na indústria da aviação.
No início da semana, a alemã Lufthansa, por exemplo, divulgou uma série de cortes na programação de voos, incluindo a extensão de proibição total de voos para a China até 24 de abril, e para o Irã até 30 de abril, além da redução de 40% nas viagens para a Itália. Estima-se que os cortes subsequentes no cronograma de curto e médio prazos reduzirão as ofertas da Lufthansa em até 25%.
Numa primeira avaliação divulgada ainda no final de fevereiro, a Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata) esperava que o coronavírus afetasse principalmente as companhias aéreas com fortes negócios na China.
A previsão da Iata – com base num cenário de que a potência asiática continuaria sendo o epicentro do surto – era de uma queda mundial no número de passageiros de 4,8% em 2020, o que já seria uma desaceleração substancial em relação ao crescimento de 4,1% previsto anteriormente.
Dentro do setor, as comparações mais frequentes são com a epidemia de Sars em 2003, que se restringiu à região Ásia-Pacífico. Na época, as companhias sofreram um declínio de 5,3% no número de passageiros durante um período de seis meses, mas se recuperaram rapidamente.
A Cathay Pacific, transportadora de Hong Kong, já sofreu grandes perdas em razão dos protestos pró-democracia na ex-colônia britânica. Agora, enfrenta outro golpe ao ter que manter em solo 120 dos 200 aviões de sua frota.
Consequências na indústria da aviação e transporte de cargas
O transporte global de cargas também não deverá ajudar essas empresas, embora o transporte de containers também seja limitado, abrindo oportunidades de nicho para algumas operadoras.
“Cerca de 50% de todo o frete aéreo é de carga adicional em aviões de passageiros. Portanto, se mais aviões de passageiros forem cancelados, isso também limitará o escopo do negócio de carga”, avalia o professor de transportes da Universidade de Ciências Aplicadas de Bad Honnef, Arno Schnalke. Um problema adicional para as companhias aéreas, segundo ele, é a disseminação rápida e pouco clara do coronavírus, tornando o planejamento quase impossível.
Para os que precisam viajar de avião, a Iata aconselha que, além de aguardar e ter esperança, os passageiros devem “lavar as mãos com frequência e espirrar no cotovelo ou no lenço de papel”, porque “usar uma máscara o tempo todo é insuficiente”.
Números da Iata
A Iata divulgou dados para os mercados globais de frete aéreo, mostrando que a demanda diminuiu 3,3% em janeiro de 2020, em comparação com o mesmo período de 2019.
Janeiro marcou o décimo mês consecutivo de queda ano a ano em volumes de carga. Houve otimismo de que o alívio das tensões comerciais entre EUA e China daria um impulso ao setor em 2020. Mas isso foi superado pelo surto de COVID-19, que interrompeu gravemente as cadeias de suprimento globais, embora não tenha tido um grande impacto sobre o setor.
Na América Latina, as companhias aéreas experimentaram um aumento na demanda de frete em janeiro de 2020 de 1,4% em relação a janeiro de 2019 – revertendo a queda de 2,5% em dezembro. Os volumes de frete ajustados sazonalmente na região também aumentaram, sustentados por novas conexões de rota, o que é um desenvolvimento positivo para as transportadoras da região. A capacidade aumentou 2,4% em relação ao ano anterior.