Vista como um exemplo no combate à Covid-19, a Nova Zelândia tem conseguido relaxar as restrições mais rápido do que outros países. Com um sistema de alertas que baseia as medidas adotadas pelo governo e seguidas pela população, o país ganha os noticiários como modelo de enfrentamento ao novo coronavírus. Pois é justamente o cenário nesse ponto da Oceania que marca a estreia do “Corona Around The World”, espaço do Portal OMDN que reúne relatos sobre a pandemia em diferentes pontos do globo terrestre.
Três meses após o primeiro registro da doença, a Nova Zelândia relaxou ainda mais as restrições. Com exceção de grandes eventos, as atividades retornam gradualmente. Mas, desde março, os moradores têm convivido com alterações nas rotinas. As principais delas ocorreram nos dois últimos meses, quando medidas mais duras foram adotadas pelo governo. “As crianças deixaram de ir à escola. Eu deixei de ir para a universidade trabalhar. As aulas extraclasse de natação e ginástica foram suspensas. As aulas de música continuaram pela internet. O curso de inglês e de marcenaria da minha esposa foram suspensos. Escolhemos que minha esposa sairia de casa para ir fazer compras. Ao voltar, ela coloca a roupa para lavar e toma banho”, conta o pós-doutorando em Engenharia de Automação Rodrigo Castelan Carlson, que reside na região de Canterbury.
Sistema de alertas
O sistema de alertas adotado pelo governo varia entre o Nível 1 (mais brando, quando a situação está sob controle) e o Nível 4 (o chamado “lockdown”, com bloqueio de atividades). O estágio mais severo entrou em vigor no dia 26 de março e permaneceu até 28 de abril. “Apenas serviços essenciais foram mantidos, como supermercados, postos de gasolina, farmácias e hospitais. Lojas pela internet podiam vender apenas produtos essenciais, incluídos, entre eles, produtos eletrônicos com suprimentos de informática, que podem ser necessários para o trabalho. Atendimento médico devia ser feito inicialmente por telefone (e a consulta é cobrada!)”, expõe o morador.
Uma singularidade pontuada por Carlson é que, apesar das restrições mais severas, os moradores tinham permissão para realizar exercícios. Só que, para isso, era necessário manter o distanciamento social e praticar as atividades físicas somente em áreas próximas à residência.
Relaxamento das medidas
A volta ao Nível 3 aconteceu há um mês, durando duas semanas. “Porém, nas ruas, observava-se as pessoas indevidamente mais relaxadas e menos cuidadosas com o distanciamento social. No Nível 3 os serviços não essenciais voltaram a funcionar, porém mantido distanciamento social e com a recomendação de permanecer em casa, se possível. O fato mais marcante dessa mudança de nível de alerta parece ter sido a reabertura dos restaurantes para vendas por tele-entrega e drive-thru (sem contato). Já na virada do dia 27 para o dia 28 de abril havia filas em lojas de fast food!”, recorda Carlson.
Desde o dia 14 de maio o país entrou no Nível 2, que será revisado no dia 8 de junho. Nessa fase, mais atividades são permitidas, já que a doença é considerada controlada (mas ainda com risco de ocorrer transmissão comunitária). “Escolas voltaram a operar com cuidados de higiene e monitoração do estado de saúde das crianças. A universidade está aberta para funcionários e estudantes, com controle em todas as portas por meio do cartão da universidade ou por QR Codes, permitindo o rastreamento”, pontua o morador.
Atualmente, a Nova Zelândia possui apenas um caso ativo de Covid-19. O diagnóstico foi em Auckland e o paciente não está hospitalizado. Nesta segunda-feira (1º), o Ministério de Saúde local anunciou que o país já alcança o décimo dia consecutivo sem novos registros da doença.
Segundo o governo, no mais tardar em 22 de junho, será considerada a mudança para o Nível 1.
Ações e suporte do governo
De acordo com Carlson, além do sistema de alertas, o governo também tem adotado outras medidas para enfrentamento da Covid-19. Entre as ações está o aumento da aplicação e processamento de testes, campanhas de conscientização e rastreamento de pessoas que tiveram contato com o vírus. “A população tem colaborado a níveis invejáveis, embora seja visível um relaxamento. Apesar disso, há vários casos de pessoas que desrespeitaram as regras. Logo no início do Nível 4 foi disponibilizada uma página na internet para denunciar pessoas infringindo o lockdown. A página não deu conta no primeiro dia. Há o registro, pelas autoridades, de quase 6 mil violações durante o Nível 4 e, nos primeiros dias do Nível 3, já havia mais de 100”, avalia o morador.
Na esfera econômica, o suporte do governo às empresas e à população têm ocorrido por subsídio salarial. Na segunda-feira (25), autoridades anunciaram um novo auxílio aos neozelandeses que perderam o emprego com a crise do coronavírus. Os pagamentos ocorrerão por 12 semanas, a partir de 8 de junho. Entretanto, nem todos podem obter esse tipo de suporte. “Exceto pela medida que dá acesso ao sistema público de saúde para casos de Covid-19, não temos nenhum tipo de auxílio, já que somos estrangeiros com vistos que não nos dão os mesmos direitos que cidadãos”, exemplifica Carlson.
Por restrições como essa, segundo ele, muitos negócios e moradores estão enfrentando momentos de dificuldades.
Fronteiras seguem fechadas
Uma determinação que ainda não foi flexibilizada na Nova Zelândia é a que instituiu o fechamento das fronteiras. A medida foi adotada em março, como uma estratégia para dificultar a propagação da doença. As viagens internacionais passaram a ser restritas, prevendo poucas exceções. “A propósito, nossos voos foram cancelados. Temos passagens para 2 de agosto. Não estou confiante, entretanto”, conta Carlson.
Segundo ele, o governo neozelandês não facilitou o processo de renovação de visto. Carlson e a família precisaram realizar as procedimentos normais para obtenção do visto no mês adicional que terão de permanecer no país.
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