Por Marcelo Raupp
É certo que o conflito entre EUA e China afeta diretamente a economia brasileira. Seja no complemento e atendimento da demanda (se a China não compra soja americana, o Brasil se candidata a isso, por exemplo), na vulnerabilidade dos dados econômicos gerada pelas inseguranças do mercado e até mesmo nas oportunidades que surgem eventualmente. Neste cenário cabe também esclarecer como o aumento do dólar na China pode melhor os preços negociados.
Um dos principais questionamentos do presidente americano versa sobre a subvalorização da moeda chinesa. Ou seja, o governo chinês mantém o dólar alto para estimular a exportação através de preços mais atrativos. A mesma ideia acontece no Brasil, mas por aqui o dólar é flutuante e acompanha a demanda. Lá, artifícios são utilizados para manter a moeda americana valorizada.
Pensemos como um exportador brasileiro. O seu produto vale R$100 e será exportado em dólar. Quando o dólar estiver R$2, o preço praticado será de, no mínimo, USD50 (USD50 x R$2 = R$100). Se o dólar for cotado a R$4, o mesmo produto pode ser oferecido por USD25, que ele terá a mesma rentabilidade (USD25 x R$4 = R$100). Ou seja, quanto maior o valor do dólar, menor o preço e mais competitivo ele é no mercado global.
Pensando nisso, a China mantém o dólar valorizado e estimula suas exportações com a redução dos preços. Até o começo deste ano, a cotação do dólar beirava os CNY6,70. Após os últimos acontecimentos, este valor pulou além dos CNY7,00.
Caso exista alguma negociação ou compra internacional em andamento com o país asiático, o brasileiro pode pleitear uma redução do preço em dólar, tendo em vista esse aumento da margem cambial. Ou seja, com um dólar mais alto, o chinês poderá oferecer um preço em dólar melhor, mantendo a sua rentabilidade final.
Claro que o fornecedor poderá argumentar de outras formas para manter este ganho. Acredito que vale a insistência, já que são nessas horas que se verifica a verdadeira a parceria.