O fim do Acordo Global de Operação (MTA) entre Boeing e Embraer é marcado por troca de acusações entre as duas empresas. De um lado, a companhia norte-americana alega que a Embraer “não satisfez as condições necessárias”, o que motivou a rescisão. Já a fabricante brasileira expõe que a Boeing rompeu indevidamente o contrato, e que adotará medidas para ressarcimento dos danos.
O fim da parceria estratégica foi anunciado pela Boeing no último sábado (25), seguido do posicionamento das empresas. Conforme a norte-americana, o MTA estabelecia 24 de abril como data inicial de rescisão, que foi adotada pelo empreendimento.
“A Boeing trabalhou diligentemente ao longo de mais de dois anos para finalizar sua transação com a Embraer. Nos últimos meses, tivemos negociações produtivas, mas sem sucesso, sobre condições insatisfatórias do MTA. Todos pretendíamos resolvê-los até a data inicial de término, mas não o fizemos”, informou o presidente da Embraer Partnership & Group Operations, Marc Allen. “É profundamente decepcionante. Mas chegamos a um ponto em que a negociação continuada no âmbito do MTA não resolverá os problemas pendentes”, acrescentou Allen, em comunicado oficial no site da Boeing.
Posicionamento contrário
Por outro lado, a Embraer se posicionou afirmando que a Boeing rescindiu indevidamente o acordo e fabricou falsas alegações. O pretexto da norte-americana seria para tentar evitar os compromissos de fechar a transação e pagar o preço de compra de U$ 4,2 bilhões. A Embraer ainda afirmou acreditar que a Boeing “adotou um padrão sistemático de atraso e violações repetidas ao MTA, devido à falta de vontade em concluir a transação, sua condição financeira, ao 737 MAX e outros problemas comerciais e de reputação”.
No comunicado, a fabricante brasileira afirmou estar em conformidade com as obrigações do acordo. Além disso, para ressarcir os danos provocados pelo fim de contrato, a empresa brasileira tomará medidas cabíveis contra a Boeing. A Embraer também trabalhará para ajustar os níveis de produção e despesas de capital, buscando a sobrevivência em longo prazo.
Joint ventures entre Boeing e Embraer
Anunciada em 2018, a parceria estratégica previa duas joint ventures – empresas criadas em conjunto pelos dois empreendimentos. A primeira seria composta pelas operações de aeronaves comerciais da Embraer e serviços associados (Boeing Brasil – Commercial). Nesse caso, a Boeing teria 80% de participação, enquanto a Embraer teria 20%. Já o outro negócio visaria desenvolver mercados para a aeronave de transporte multimissão C-390 Millennium (Boeing Embraer – Defense). Nesse acordo, a Embraer teria 51% dos negócios e a Boeing os 49% restantes.
Em novembro do ano passado, a joint venture Boeing Embraer – Defense chegou a ter anúncio oficial das companhias. Na época, foi divulgado que ela só estaria operacional após aprovação de órgãos regulatórios e cumprimento de algumas condições. Em janeiro de 2020, a parceria estratégica recebeu aprovação pela Superintendência Geral do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) no Brasil. Com isso, o novo negócio foi aceito por praticamente todos os órgãos reguladores – a única exceção era a Comissão Europeia.
Segundo a Boeing, apesar do fim do acordo, as duas empresas ainda manterão o Contrato de Equipe Principal. O documento foi assinado em 2012 e ampliado em 2016, para comercializar e apoiar em conjunto as aeronaves militares C-390 Millennium.