O comportamento dos habitantes de cada país proporciona imensa diversidade. Um mesmo gesto com as mãos, por exemplo, tem significados diferentes, positivos ou negativos. São hábitos que afetam a forma como as pessoas pensam, se comunicam, se comportam e realizam as transações comerciais. São diversos exemplos de como a cultura influencia os negócios internacionais. Desde como entregar um cartão de visitas com as duas mãos, como fazem os chineses, até a capacidade de improvisação na resolução dos problemas, como é corriqueiro aos latino-americanos.
Neste campo é comum o cultivo de estereótipos que podem prejudicar as futuras relações. ‘Os americanos são mal-educados’, ‘os alemães são muito frios’, ‘os japoneses trabalham demais’, e assim vai.
A cultura do mundo dos negócios é algo que se aprende além da sala de aula. É preciso viver as experiências”, conta Renato Barata, diretor da UNQ Negócios Internacionais, que já viveu, estudou e trabalhou em vários países e continentes.
“Formamos a imagem sobre diferentes culturas que nem sempre são as reais. Ao mesmo tempo que o comércio exterior exige muita preparação para que se evitem erros que podem parecer falta de respeito”, afirma.
Alemanha
Nos dois anos e meio que viveu, estudou e trabalhou na Alemanha, Barata, lembra que aprendeu bastante com a organização germânica. “São metódicos e organizados e ainda que tenham pouco espaço para improvisos essa cultura acelera a curva de aprendizado. Por exemplo, lá atuava na área de gestão de projetos e eles costumam ter manuais muito completos sobre o que deve ser feito de acordo com cada situação. Pode parecer burocrático, porém é um material com muita utilidade”.
Mas a capacidade de improvisação e adaptação dos brasileiros é admirada. “Certa vez, encontramos um colega e uma professora pelos corredores da universidade e me convidaram para um happy hour, que aceitei na hora. A professora alemã, ficou admirada e disse que se fosse com ela, teria que conferir a agenda primeiro antes de aceitar o convite.”
Estados Unidos e México
Nestas questões metodológicas, Barata, que trabalhou por um ano e meio nos Estados Unidos, pode comparar e dizer que os americanos conseguem ser mais práticos.
Houve uma situação em que estávamos no México, junto com profissionais locais, dos EUA e da Alemanha e ficamos num impasse sobre a movimentação de um equipamento. Os alemães diziam que era impossível sem as máquinas e peças adequadas. Os americanos achavam que era viável e os mexicanos deram um jeito com força braçal e improvisação”.
América do Sul
Nos vizinhos ao Brasil, Renato Barata, visitou a trabalho a Argentina, Colômbia, Paraguai e Uruguai, além do Chile que também está na América do Sul. Nestas nações, apesar da proximidade territorial e semelhanças de comportamento a diferença de idioma acaba sendo forte barreira cultural. – É preciso dar valor para o aprendizado do espanhol. Não é difícil, só que exige dedicação para se evitar erros do chamado portunhol. Em um nível profissional isso é ruim. E ainda temos que lembrar que a própria língua espanhola tem diferenças entre os países ‘hablantes’ – reforça.
China
O principal parceiro comercial do Brasil pode ser considerado um desafio quando o assunto é diferença cultural. Com uma língua difícil e um alfabeto mais complicado ainda, os visitantes sentem o choque logo na chegada com a dificuldade de comunicação.
Os chineses são diferentes desde o momento que se apresentam e entregam o cartão de visita com as duas mãos até na forma de negociar”, relata Barata que esteve no país oriental em três oportunidades.
“Atualmente estão mais acostumados com os brasileiros, no início havia conflitos como no hábito de pedir desconto. Para eles, menor preço significa um produtor inferior. Hoje sabem o que é pechinchar.”
Lembra dos estereótipos citados no início deste texto? A China também era vista como um país com produtos de baixa qualidade, situação que mudou nas últimas décadas com a expansão para mercados mais exigentes como os Estados Unidos e Europa. “Hoje é possível encontrar produtos de ótimo padrão. Os chineses se adaptaram e investiram, mas muitas vezes o clichê ainda é lembrado”.
Alimentação
Para finalizar um tópico que igualmente tem relação com a cultura e os negócios internacionais: a comida. Quem viaja, pode ter dificuldades de adaptação com a alimentação local. E às vezes, por mais que se queira experimentar alguma novidade deve-se ter cuidado. “Nem sempre é questão de achar ruim, estranho ou até de qualidade, é de costume mesmo. Um tempero ou ingrediente diferente é capaz de causar uma indisposição que pode prejudicar todo o planejamento da viagem. Imagina realizar visita de sete a dez dias num lugar distante com o objetivo de encontrar clientes, participar de feiras e acabar ficando doente e trancado num quarto de hotel?”, aconselha Renato Barata.