Corredor logístico estratégico, o Canal do Panamá avalia soluções em longo prazo para a manutenção das operações. Ao mesmo tempo em que é impactada pela pandemia de Covid-19, a via também sofre com efeitos da estiagem prolongada. Para contornar essa situação, a Autoridade do Canal do Panamá avalia projetos e alternativas em diferentes frentes. O objetivo, conforme o administrador do local, Ricaurte Vásquez Morales, é adotar um “portfólio” de medidas para enfrentamento desses problemas.
Em artigo recente, Morales comentou que a Autoridade do Canal do Panamá selecionará propostas estratégicas. Para isso, um processo de licitação está previsto para os próximos meses, para analisar soluções elaboradas por empresas externas. “Esse trabalho continuou além da Covid-19 e continuará. Nosso objetivo é ter vários projetos e alternativas, não necessariamente uma opção específica”, comentou o administrador do canal.
Morales não descarta que novos desafios ocorram, entendendo que o Canal do Panamá precisa se reinventar sob os serviços oferecidos. “Se considerarmos que levou quatro meses para perceberemos o impacto da pandemia no canal, estimamos que a recuperação será lenta. Sabemos que sofreremos um maior número de cancelamentos de tráfego e, portanto, continuaremos a trabalhar com os proprietários de cargas para antecipar suas necessidades e garantir que nossa operação permaneça eficiente e competitiva”, ressaltou.
Já em relação aos desafios hídricos, o administrador apontou que as medidas adotadas estão funcionando, garantindo nível operacional de profundidade.
Situação mais crítica em maio
Maio foi o mês mais crítico para a hidrovia, conforme a Autoridade do Canal do Panamá. Nesse período foram sentidos impactos mais profundos da pandemia, como queda brusca no tráfego de embarcações. “Durante a primeira metade do mês, os tempos de espera começaram a diminuir e observamos menos trânsitos. Por fim, maio encerrou com um total de 937 (trânsitos), uma redução de 21% em relação ao que foi projetado no início de nosso ano fiscal, em outubro de 2019”, informa Morales.
No panorama anterior, que considerava operações de abril, já havia sido notada queda em relação ao planejado para o canal. Dados apontam que a média de navios por dia foi de 34, totalizando 1.022 durante o mês. “De qualquer forma, não notamos um impacto significativo em termos de tonelagem, pois várias empresas de transporte transferiram sua carga, ou grande parte, para navios maiores”, expôs Morales.
Segmentos mercantes impactados pela pandemia
Entre os setores mais impactados está o de embarcações de passageiros, porta-veículos e gás natural liquefeito (GNL). Porém, o segmento de porta-contêineres – considerado o mais importante para a rota interoceânica – está estável. De acordo com a Autoridade, isso ocorre porque o setor trabalha com contratos mais longos, além da alta demanda mundial por mercadorias. “Os graneleiros estão trabalhando em grandes volumes, dada a necessidade de matérias-primas. Por fim, observamos que a pandemia acelerou o ajuste das cadeias de suprimento globais que havíamos antecipado antes do coronavírus e favorece a localização sobre a globalização”, avaliou o administrador.
Seca prolongada mantém alerta
Além do novo coronavírus, outro problema já havia acendido o alerta da autoridade panamenha: a estiagem. Em janeiro, o Canal do Panamá anunciou que 2019 encerrou como o quinto ano mais seco dos últimos 70 anos. Com a ausência de chuvas significativas em 2020, a situação se arrasta. Isso contribuiu para a queda dos níveis de água do lago Gatún, principal fonte para funcionamento da hidrovia.
Para resolver essa situação, a Autoridade do Canal do Panamá introduziu algumas medidas, como cobrança de água doce. “O nível de tráfego que estávamos lidando após 15 de fevereiro, quando essa iniciativa foi implementada, nos levou a ter filas de espera de até cem navios, que chegaram à rodovia interoceânica sem reserva de tráfego. Para garantir nosso serviço de acordo com os padrões exigidos por nossos clientes, aumentamos o número de bloqueios para aproximadamente 36 por dia, a fim de reduzir o tempo de espera”, detalha o administrador do canal.
Segundo estatísticas da administração da hidrovia, o trânsito mensal acumulado em maio foi de 9,4 mil embarcações. Desse total, 76% foram navios Panamax e 24% Neopanamax.
Leia também:
Canal do Panamá: um “atalho” interoceânico