Volta e meia surge um comentário comparativo entre China e Brasil. Infelizmente, a maioria tem tom pejorativo, considerando que o país asiático não seria um bom parâmetro. Nos últimos dias, com a aprovação do PL 2.630/20 pelo Senado, os comentários ascenderam a discussão sobre democracia e liberdade, o que mais uma vez trouxe a China como alvo de especulação.
Para entender a realidade da China, é importante conhecer a história. Entre 1949, quando proclamada a República Popular da China por Mao, e 1976, com a morte dele, o país sofreu um isolamento intenso. Não era possível ter acesso a qualquer informação exterior, já que o objetivo era induzir o povo de que o comunismo da época era a melhor solução, embora a fome fosse evidente. Com o retorno das premissas de acesso à informação e abertura de mercado, o governo eventualmente toma algumas ações de controle administrativo, muitas vezes vistas como antidemocráticas, embora a história permita esse zelo com uma gestão de abertura gradual.
Informação controlada
“Mas, na China, os principais canais de comunicação são do governo!” Sim, isso pode ser preocupante. Por outro lado, no Brasil, historicamente, temos o governo como principal cliente das mídias, seja da esfera federal, estadual ou municipal, o que torna o resultado final da mesma forma questionável. O importante, nesse caso, é que os canais informais de comunicação têm crescido bastante e os gaps de verdade têm sido reduzidos proporcionalmente.
Se compararmos com a Coreia do Norte, por exemplo, onde pessoas são contratadas para escrever sobre o país como se fossem sul-coreanos, e o acesso aos meios de informação é limitado, percebemos a diferença no controle da informação.
WhatsApp limitado
“Mas a China tem o WhatsApp limitado!” Sim, e isso é muito questionável. Como também são, no Brasil, os crimes comandados de dentro do presídio pela ferramenta. Ou crimes compartilhados por ela sem a justiça ter acesso. A criptografia do WhatsApp, impossibilitando a verificação de situações graves, abriu espaço para o WeChat, aplicativo mais popular por lá. Não é possível controlar bate-papos de 1,4 bilhão de pessoas. Dentre ocultar da justiça informações de bandidos ou abri-las, eu fico com a segunda. Afinal, quem não deve…
Google não funciona
“Mas o Google é bloqueado na China!” Sim, porque não quis se adequar a algumas exigências do país. E, claro, isso é bem questionável. Como também é estar à disposição respostas para perguntas sobre como fazer bombas caseiras, acesso à pornografia infantil ou dar nós em corda para enforcamento. O livre arbítrio singular é saudável até que não interfira na segurança alheia e a gestão da China optou por isso, abrindo outros caminhos de serviços para empresas locais. Tentar chegar no equilíbrio talvez seja a melhor solução.
Desenvolvimento geral
“Mas na China o governo tem muita autonomia de decisão!” Sim, e isso pode ser questionado quando as decisões vão contra o povo. O que se percebe, no entanto, é uma capacidade de desenvolvimento muito importante. Peguemos um exemplo pequeno que são os 25 mil quilômetros de estrada férrea. São pontes, viadutos e portos e aeroportos em constantes obras e à disposição do cidadão e do empresário, dentre tantos outros serviços que funcionam bem.
No Brasil, as decisões travam no interesse individual e na burocracia. Em Santa Catarina, por exemplo, fala-se há mais de dez anos da “ferrovia do frango”, para ligar o litoral à cidade de Chapecó. Nada além do papel, embora a necessidade seja intensa. A BR-101 no litoral sul catarinense levou mais de década para ser concluída. E ainda precisou aguardar a agenda presidencial para ser inaugurada. Dentre outros tantos exemplos.
Na verdade, o objetivo aqui não é trazer o modelo da China como ideal. Até porque muitas coisas ainda são incógnitas no país. Mas é abrir a forma de pensar além do comparativo sem fundamento, colocando o país como exemplo em alguns aspectos e fazendo uma relação positiva com o que vivemos hoje.
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