Da extrema pobreza a um dos países mais ricos do mundo a Coreia do Sul precisou de 60 anos. O salto pode ser explicado por uma revolução baseada em uma política que incluiu pesados investimentos na educação.
Há dois anos vivendo no país asiático, a catarinense Millena Biff, de 24 anos, percebe que o motor do desenvolvimento econômico e social continua sendo o enfoque que o país dá para a educação.
Entre os destaques da política pública de incentivo à educação estão a formação dos professores, que estão no grupo dos melhores remunerados do mundo. Além disso, também houve investimento em material de apoio e melhoria na estrutura das escolas nas últimas décadas, aliada a uma rígida disciplina. Segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), cada aluno sul-coreano custa U$ 9,3 mil ao ano. No Brasil, o valor é de U$ 3,8 mil ao ano.
Millena é formada em Administração e Comércio Exterior pela Unesc e cursa mestrado em Comércio Internacional na Konkuk University.
A Coreia [do Sul] há muito tempo entendeu a importância da educação e conhecimento científico para o desenvolvimento de um país. Aqui a educação é extremamente valorizada e se investe pesado em pesquisa”, destaca.
De fato, a Coréia do Sul se tornou uma gigante. É a quarta maior economia da Ásia e décima-primeira do mundo. Exporta equipamentos de telecomunicações, computadores e automóveis. As vendas mundo afora renderam 510 bilhões de dólares ao país em 2018.
O desafio de estar longe de casa
O número expressivo ajuda a entender o que faz tão longe de casa uma recém-formada na área de Comércio Exterior. Millena busca na Coreia do Sul conhecimento para seguir na carreira acadêmica sem a pressão de também estar focada no mercado de trabalho. No Brasil, sete em cada dez universitários compartilham os estudos com uma rotina de trabalho, de acordo com o DataPopular. No país asiático, segundo Millena, a experiência em sala de aula é mais valorizada durante a formação de um profissional.
“Aqui percebo que a experiência acadêmica é muito mais importante. Desde a graduação, por exemplo, não há tanta pressão para que os estudantes trabalhem na área enquanto estudam. Espera-se que tenham dedicação exclusiva aos estudos e uma vez que se formem, aí sim espera-se que procurem trabalho”, relata a catarinense lembrando que até mesmo o investimento em materiais acadêmicos é facilitado. Uma realidade que escancara as diferenças entre a educação superior sul-coreana e brasileira. “Tenho amigos da área de engenharia, por exemplo, que trabalham em laboratórios da faculdade fazendo experimentos e conseguem comprar os equipamentos que precisam de forma rápida, sem precisar se importar com preço”, destaca.
O desafio do aprendizado da língua
Para concorrer à bolsa de estudos, Millena precisava comprovar conhecimento na língua local. Por isso, um mês antes do processo seletivo arriscou-se em uma viagem apenas para aprender o coreano.
A ousadia não só garantiu o mestrado, como vem mostrando uma experiência inédita de intercâmbio cultural. As diferenças entre o país natal e o escolhido para se aperfeiçoar são sentidas em todos os aspectos, inclusive durante uma reunião de negócios. Para Millena, os sul-coreanos são objetivos, discretos e formais.
“Eu diria que pra ter sucesso em uma reunião de negócios por aqui, você precisa ser bem claro ao passar a sua mensagem e também respeitar o espaço deles. Normalmente as pessoas se cumprimentam com uma reverência, nunca se abraçando e muito menos beijando. Felizmente a simpatia dos brasileiros é bem vista, só temos que ter cuidado para não forçar muito o contato físico”, alerta a mestranda.
A previsão é que a formação seja concluída no segundo semestre de 2020. Millena trabalha em uma dissertação focada em ciências políticas e administração internacional. Até voltar ao Brasil, divide-se entre os estudos com a curiosidade de um estrangeiro vivendo em um país tão distinto e as barreiras que 17 mil quilômetros de distância de casa podem causar.
“O país está muito longe do Brasil, então fica difícil visitar com frequência ou conversar pelas redes sociais, já que o fuso horário é bem diferente”, lamenta.
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