A ligação com o universo dos tecidos, da moda e das relações comerciais impulsiona a trajetória da gaúcha Mariel Sambucetti na China. Morando em Xangai há quase oito anos, a brasileira criou uma empresa para aproximar os clientes “tupiniquins” de fornecedores do mercado fashion chinês. Na prática, a Mimi Ricci se torna uma extensão, do outro lado do mundo, da equipe de marcas brasileiras, como uma ponte para o processo de importação de produtos acabados.
De acordo com Mariel, o empreendimento busca minimizar as diferenças culturais entre os dois países e fazer com que o processo de compra seja satisfatório para os brasileiros.
A empresa é destinada às pessoas que têm vontade de comprar na China, que têm interesse em desenvolver produtos aqui. Eu sou quem vai estar aqui dando suporte, acompanhando a ordem, garantindo que as coisas saiam como elas foram planejadas em todos os sentidos: quantidade, cor, produto, medida”, pontua a proprietária da Mimi Ricci.
Essa ligação entre clientes e fornecedores garante mais tranquilidade para um processo que pode ser conturbado para quem não tem experiência no assunto. “Por exemplo, hoje tem inúmeras fábricas que podem fazer o mesmo casaquinho de tricô. Não só, obviamente, pela quantidade de opções, mas em função de preço. E o fornecedor que faz o tricô baratinho não é o mesmo que faz aquele super caro. Não só por ele não conseguir, mas por uma questão de maquinário, conhecimento, matéria-prima e uma série de coisas. Então não é que vai chegar hoje aqui, decidido a importar tricô, e vai em qualquer um. Tem que ter um conhecimento mínimo”, explica Mariel.
Dificuldades geradas pelas diferenças
E não são poucas as barreiras que alguém sem expertise no mercado fashion encontra ao tentar adquirir produtos acabados da China. As dificuldades vão desde a diferença no fuso horário entre os dois países, passando pelas características culturais e entraves linguísticos. “A forma de pensar e de agir deles, as prioridades deles são diferentes das nossas. É uma questão cultural. Para eles, se mandar hoje ou amanhã não tem importância. Eles não estão muito preocupados se vão te entregar um produto bom, se no ano que vem vai colocar uma ordem novamente. As coisas aqui, as relações, são meio descartáveis, porque o mundo inteiro compra da China”, observa a empresária.
Entretanto, para quem consegue superar os obstáculos e aprende a lidar com essas situações, as relações comerciais se mostram vantajosas. “Quando eles criam uma relação contigo de parceria, eles são muito leais. Mas, até isso acontecer, leva um tempo”, acrescenta.
Um exemplo do que costuma gerar dor de cabeça a quem importa roupas acabadas é a modelagem, já que as asiáticas têm padrões diferentes das brasileiras. “Elas são mais mignon, menorzinhas. Então é outro corpo, são outros tamanhos, outras medidas. E, na hora da fabricação, se não tiver isso bem pontuado, bem específico, bem claro, a probabilidade de acontecer algum tipo de erro é bem grande. Porque, na dúvida, o chinês vai fazer aquilo que ele sabe, que é a padronagem daquele corpo menor, com outras medidas”, expõe.
Trajetória que remete à infância
Apesar da Mimi Ricci estar completando oito anos de atividades em 2020, a ligação da empreendedora com o mercado fashion data de muito antes. Há quase quatro décadas, a mãe de Mariel, Maria Síria Salman, possui uma empresa ligada ao mesmo segmento, a Confecções Gangas, o que fez com que a jovem crescesse em meio ao universo fashion e de negócios.
Então eu nasci no meio de roupas, de compras, de tudo isso. Minha mãe é uma das primeiras importadoras do ramo têxtil do Brasil. Então tem todo um histórico, não caí aqui por acaso“, conta Mariel.
As primeiras viagens de Mariel à China foram, justamente, voltadas aos negócios administrados pela mãe. A aproximação com o mercado começou em 2009 e se intensificou nos anos seguintes. Foi então que, em 2012, a família resolveu que era preciso avançar. “Foi quando a gente decidiu que a empresa precisava ter alguém aqui, pelo menos por um período, para poder formatar as coisas. Então foi quando decidi que eu viria. Eu cheguei em abril para morar e a ideia era ficar um ano. Seria por tempo suficiente para formatar o escritório, uma estrutura mínima aqui”, recorda Mariel.
Foi então que o destino reservou uma surpresa à brasileira, que a fez mudar esses planos. “Acabei conhecendo o meu namorado, que hoje é meu marido. Ele já morava aqui há cinco anos, é engenheiro. E foi quando eu resolvi ficar. Daí abri uma empresa para mim e virei uma terceirizada da empresa da minha mãe”, acrescenta.
Há dois anos, Mariel ganhou mais um presente: o filho Pedro, que nasceu no Brasil, mas que desde os dois meses de idade mora no país asiático.
Desenvolvimento do negócio
O escritório da brasileira passou a prestar o mesmo serviço ligado antes à empresa da mãe, mas abrangendo novos clientes, como a Renner, Animale, Farm e Panvel. Além de peças de vestuário, a Mimi Ricci também possui know-how em outros segmentos relacionados – como no contato com fornecedores de acessórios, papelaria, embalagens, brindes e produtos de higiene e limpeza –, o que a possibilita ampliar os horizontes no mercado fashion chinês.
Para impulsionar o novo negócio, a empreendedora também teve como base o conhecimento acadêmico adquirido no Brasil, já que é formada em Administração de Empresas pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC/RS) e pós-graduada, também nessa área, pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
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